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Uma revolução conservadora na edição, artigo de Pierre Bourdieu (original: Une révolution conservatrice dans l’édition, Actes de la Recherche en Sciences Sociales, v.126-127, 1999)

tradução: Luciana Salazar Salgado e José de Souza Muniz Jr.

Assim como o livro, objeto de duas faces – econômica e simbólica –, é tanto mercadoria quanto significação, o editor é também um personagem duplo, condenado a conciliar a arte e o dinheiro, o amor à literatura e a meta de lucro, por meio de estratégias que se situam em algum lugar entre dois extremos: a submissão cínica aos critérios comerciais e a indiferença heroica ou desatinada às necessidades econômicas. Contra a ilusão da autonomia das relações de “decisão” visíveis (editor, equipes de avaliação, pareceristas, diretores de coleção), que leva a ignorar as coerções do campo, este artigo mostra os determinantes econômicos e sociais das estratégias editoriais. A partir do estudo de 61 editoras de obras de literatura francesa ou traduzidas que foram publicadas entre julho de 1995 e julho de 1996, uma análise de correspondência múltipla permite vislumbrar a estrutura do campo editorial. Observa-se, antes de mais nada, do ponto de vista do volume global do capital acumulado pelas editoras, a oposição entre as grandes empresas mais antigas, que acumulam todos os tipos de capital (econômico, comercial e simbólico), cujo paradigma é a Gallimard, e as pequenas empresas recentes que, estando na fase inicial da acumulação, são menos ou mais desprovidas de todo tipo de capital, mesmo quando possuem certo capital simbólico na forma de estima ou admiração de alguns “descobridores”, críticos e escritores de vanguarda, livreiros ilustrados e leitores bem informados. O segundo fator observável é o que distingue as editoras de acordo com a estrutura de seu capital, ou seja, conforme o peso relativo de seu capital financeiro (assim como de seu poderio comercial) e do capital simbólico de seu passado recente ou de sua atividade atual (por oposição àquele que elas acumularam desde a sua fundação). Já o terceiro eixo de análise separa as editoras que não publicam traduções ou publicam poucas e sobretudo de textos versados em línguas pouco difundidas, e aquelas que, mais à mercê das coerções do mercado, traduzem muito e sobretudo do inglês, ou seja, literatura comercial de sucesso garantido.

publicado em: Política & Sociedade (2018)

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Analisar discursos institucionais, manual de Alice Krieg-Planque (original: Analyser les discours institutionnels, Armand Colin, 2012)

tradução: Luciana Salazar Salgado e Helena Boschi

“Quem quer que deseje apreender um discurso para estudá-lo encontra em seu entorno uma multiplicidade de territórios e objetos que se prestam a esse tipo de investigação: o discurso está no centro da vida política e social. Muito frequentemente essa pesquisa encontra em seu decurso atividades de informação e comunicação que, de fato, antes de mais nada, são discursivas e simbólicas. É preciso, então, estabelecer o que se pode fazer (e o que não se pode fazer) com os textos e os enunciados observados dessa perspectiva, e explicar virtures e limites da análise do discurso como um estudo do real do discurso, nos seus elementos observáveis em contexto e situados”.

publicado por: EDUFU (2018), com prefácio de Sírio Possenti (Unicamp), em coleção organizada por Fernanda Mussalim (UFU)

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