O que é Mediologia?

Tradução de “What is Mediology?” de Régis Debray, por Lívia Beatriz Damaceno

Fonte: https://www.mediologie.org/what-is-mediology

A tarefa da mediologia é elucidar os mistérios e paradoxos da transmissão cultural. Tentamos entender como uma ruptura em nossos métodos de transmissão e transporte provoca uma mudança em nossas mentalidades e comportamentos, assim como, inversamente, de que modo uma tradição cultural provoca, assimila ou modifica uma inovação tecnológica. De modo geral, tal perspectiva inclui a interação entre técnica e cultura, na intersecção entre o que tem sido chamado de formas superiores de vida social (religião, arte, política) e os aspectos mais humildes da vida material (o usual, o banal ou trivial).

A mediologia não é nem uma doutrina nem uma ciência moral, menos ainda uma “nova ciência”. É sobretudo um método de análise, de compreender a transferência no modo de duração de uma informação (transmissão). Não é um campo de conhecimento especial (como a sociologia das mídias) mas, em um sentido amplo, é um modo original de se chegar ao conhecimento que consiste em inscrever as mediações numa dimensão histórica, tanto a partir da educação formal quanto de aspectos práticos que a tornaram possível. Estará agindo como um mediólogo aquele que trouxer à tona as correlações entre um córpus simbólico unificado (uma religião, doutrina, gênero artístico, disciplina, etc…), uma forma de organização coletiva (uma igreja, partido, escola, academia) e um sistema técnico de comunicação (gravação, arquivamento e circulação de vestígios). Ou, de maneira mais simples, quando alguém escreve as palavras de outra pessoa, considerando o modo como foram ditas e quem deseja repeti-las. 

A questão, ainda obscura, da eficácia simbólica é o coração desta interdisciplina. Essa foi a plataforma de lançamento. Nas palavras de Karl Marx: “uma ideia se torna força material quando se apodera das massas”. Quais mediações (caminhos e meios) fazem com que uma palavra, imagem ou texto se tornem mudança, mentalidade, movimento e ação? Como uma Palavra se torna Corpo? Trazendo luz para a eficácia simbólica (o poder do discurso, poder das palavras, influência da imagem, etc…), somos levados a examinar de forma atenta as variações tecnológicas da difusão das mensagens (logosfera, grafosfera, videosfera, a atual hiperesfera), elas mesmas ligadas a diferentes modos de transporte através do espaço, assim como as estratégias de organização coletiva que autorizam o uso deste ou daquele equipamento. O medio – em mediologia – designa, portanto, um conjunto de dispositivos que serve para veicular um signo, os seus meios (material) e seus agentes (social) de circulação (corpos intermediários e suportes de educação formais).

Os pioneiros e precursores são numerosos e multinacionais nesse campo largo da mediologia, que é entendida como a exploração do mundo simbólico por meios logísticos: Victor Hugo (“isto matará aquilo”), Walter Benjamin, Valéry, McLuhan, Walter Ong, etc… A mediologia busca tornar as intuições desses grandes pioneiros coerentes, inteligíveis, e estendê-las, contribuindo para que um dia possa emergir uma ecologia da cultura.

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