Me(i)diologia? Pensando o conceito de médium de Régis Debray e algumas traduções para o português brasileiro

autoras: Ana Elisa Sobral Caetano da Silva Ferreira, Livia Beatriz Damaceno e Luciana Salazar Salgado

O primeiro contato com a Médiologie, proposta por Régis Debray (1993, 1995, 2000, 2001), é sempre intrigante e talvez um pouco incômodo, como esses parênteses que propomos no título. A leitura das obras do autor, além de divertida — com uma veia irônica que pulsa a cada página — não é simples. Debray traz muitas referências, faz digressões, chama para seus textos, anjos, deuses e pagãos, sem que o leitor seja poupado dessa potência que é a Médiologie. Apresentamos o conceito primeiramente em francês, pois nossa proposta é debater como a tradução desse termo desencadeou um “quiproquó” que acaba sendo um entrave nas produções que transitam nesse campo epistemológico. Inicialmente, é preciso dizer que a palavra Médiologie é um neologismo: “formado por médium e o sufixo grego logos, para designar um domínio de estudos metódicos, ou seja, a mediologia é o estudo de veículos ou médiums. Estranho? Indaga o autor, mas iremos nos acostumar como fizemos com a tecnologia, biologia, sociologia e ecologia. Patientez vous verrez [Calma, você já vai entender]. Ou ainda, cada época tem sua logia, será que lembramos da frenologia ou da dromologia? Tenhamos paciência, as modas também são passageiras.” (tradução nossa)

palavras-chave: mediologia; midiologia; discurso; tradução.

publicado em: Eufrida Pereira da Silva, Juliana de Souza Topan, Teresa Helena Buscato Martins (orgs.). Educação, literatura e linguagem em diálogo. São Paulo: Gênio Criador, 2021.

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escolha e desenvolvimento de materiais no PLE Avançado: um estudo de caso no ensino de Português Língua Estrangeira durante a pandemia

autora: Vitória Ferreira Doretto

O ensino de Português Língua Estrangeira (PLE) traz diversos desafios e surpresas na preparação de materiais e no desenrolar dos cursos devido ao olhar curioso e estranho ao próprio idioma que o professor acaba por desenvolver durante essa trajetória. Aos desafios já bem conhecidos da sala de aula de ensino de PLE, somaram-se outros advindos das novas realidades e práticas que a pandemia de COVID-19 fez aflorar. Em 2020, experimentamos o ensino on-line – em plataformas comumente usadas para reuniões e nem sempre adequadas ao ensino –, necessário durante a pandemia global e dentro do plano emergencial para continuidade das atividades. Considerando que um curso de língua estrangeira, neste caso, um curso de português para estrangeiros, é construído com sequências didáticas (CRISTOVÃO, 2009; DOLZ; NOVERRAZ; SCHNEUWLY, 2004), que formam então a divisão das aulas, neste texto trataremos de questões concernentes ao planejamento e desenvolvimento de atividades síncronas para um curso de Português Língua Estrangeira de nível Avançado, para alunos falantes de espanhol e de outras línguas (italiano e francês), e dos materiais e recursos escolhidos e modificados no decorrer das semanas de aula. Nos apoiando em discussões trazidas por Rozenfeld e Viana (2019) e Almeida Filho (2008, 2012), traçaremos o percurso de produção e escolha de materiais de forma a discutir em que se baseiam as seleções de materiais autênticos e como o contato com os alunos faz com que dentro destas seleções ocorram novas triagens.

palavras-chave: ensino de português como língua estrangeira; ple; português língua adicional; ensino na pandemia

publicado em: Amanda Post da Silveira; Dirceu Cleber Conde (org.). Ensino-aprendizagem de línguas estrangeiras no modo remoto: experiências do Instituto de Línguas da UFSCar em tempos de pandemia. Araraquara: Letraria, 2022.

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a publicação de literatura sul-coreana no Brasil: o caso de Pepino de Alumínio

autora: Vitória Ferreira Doretto

Tecemos considerações sobre a publicação de obras da literatura sul-coreana no Brasil, de forma especial discutiremos questões sobre o livro Pepino de Alumínio, de Kang Byoung Yoong, publicado em 2018 pela editora Topbooks. Misturando fatos sobre a vida do roqueiro Viktor Tsoi, a trama segue Choi Vitório em sua descoberta de identidade em meio ao bullying que sofre na escola que frequenta. Nos interessa abordar os possíveis fatores que impulsionaram a publicação da obra para o público brasileiro – como o lançamento do filme Verão (2018), sobre a vida do roqueiro, e a abertura do mercado brasileiro para produtos da onda Hallyu (termo criado pela imprensa chinesa que se refere à popularização da cultura popular sul-coreana a partir de 1990), para isso, traremos também alguns outros títulos que se enquadram nesse cenário. Em certa medida, pretendemos nos ater também nas questões concernentes à mediação editorial e aos ritos genéticos editoriais que envolvem a publicação da obra – incluindo a visita do autor ao Brasil para uma série de conversas sobre literatura.

palavras-chave: literatura sul-coreana; mediação editorial; tratamento editorial de texto

publicado em: Ana Maria Amorim; Gerson Roberto Neumann (org.). Histórias da literatura: entre as páginas da tradição: volume 2. Porto Alegre: Bestiário/Class, 2021.

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análise de instrumentos de ensino de português como língua estrangeira: entre a lusofonia e a identidade latino-americana

autora: Helena Boschi

Na esteira de pesquisas recentes que tratam do português brasileiro e de seu ensino como língua estrangeira, analisamos a coleção Brasil Intercultural e o Portal de Professores de Português Língua Estrangeira como instrumentos linguísticos representativos da construção de duas discursivizações: a “identidade latinoamericana” e a “lusofonia”. O córpus se insere em uma conjuntura de aumento de interesse pelo português brasileiro, que remonta à sua constituição como língua transnacional (ZOPPI FONTANA, 2009) a partir de eventos linguísticos da década de 1990, como a criação da Sociedade Internacional de Português Língua Estrangeira (SIPLE) em 1992, do exame nacional de proficiência Celpe-Bras em 1993, do primeiro curso de licenciatura em PLE (UnB) em 1998, além da criação do Mercado Comum do Sul (Mercosul) e, mais recentemente, a criação da Unión de Naciones Suramericanas (Unasur) em 2008, que se propõe explicitamente a contribuir para a construção de “una identidad y ciudadanía suramericanas” (ARNOUX; NOTHSTEIN, 2014, p.15; BEIN, 2014). Com o aumento da demanda pelo ensino de português para estrangeiros, a produção de instrumentos linguísticos de português por brasileiros também aumentou expressivamente nos anos 2000 (DINIZ, 2010), e o posicionamento adotado nesses materiais contribuiu para consolidar internacionalmente o imaginário homogeneizador do Brasil como país monolíngue. O português brasileiro se instituiu hegemonicamente, assim, como língua veicular atendendo antes a uma ordem de mercado do que de integração. No entanto, segundo Diniz (2010), não se universalizou porque não se desterritorializou (como o inglês, por exemplo), dependendo dos imaginários relacionados ao Brasil e ao que se dissemina como “cultura brasileira” para se sustentar. A partir de uma perspectiva glotopolítica, observamos a maneira como essas ideologias linguísticas postas no debate público se materializam nos dispositivos que definimos como córpus, analisando suas implicações para o ensino e para a circulação de imaginários de língua e de cultura relacionados ao Brasil.

palavras-chave: português língua estrangeira; lusofonia; integração latino-americana; glotopolítica; instrumentos linguísticos.

publicado em: Arnoux, Elvira N.; Becker, Lidia; Del Valle, Jose. (Org.). Reflexiones glotopolíticas desde y hacia América y Europa. 1. ed. Berlin: Peter Lang, 2021. p. 299-316. Compilação de trabalhos apresentados no Tercer Congreso Latinoamericano de Glotopolítica (Hannover, setembro de 2017).

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cartas do leitor: uma análise de tarefas do Celpe-Bras da perspectiva das cenas da enunciação

autora: Helena Boschi

Este texto é uma partilha de inquietações decorrentes de cursos preparatórios para o Celpe-Bras (o exame oficial de proficiência em português brasileiro) que ministrei na UFSCar nos últimos anos. Focalizando tarefas corrigidas e organizadas conforme níveis de proficiência no Guia do participante (2013) – a última publicação oficial com produções “autênticas” de examinandos –, discutirei dois pressupostos teóricos da avaliação, “tarefa” e “língua em uso”, à luz da teoria das cenas da enunciação de Dominique Maingueneau (2008). Serão mobilizados, especificamente, os conceitos de cena englobante, cena genérica e cenografia, que instrumentalizarão a análise das estratégias adotadas tanto pelo exame em si, na avaliação da produção textual, quanto pelos alunos, nas soluções encontradas ao tentar encenar aquilo que lhes é solicitado: “o uso da língua em situações reais de comunicação” (DELL’ISOLA, SCARAMUCCI, SCHLATTER, JÚDICE, 2003, p.155).

palavras-chave: português língua estrangeira; Celpe-Bras; cenas da enunciação; gêneros discursivos; cartas do leitor.

publicado em: Décio Rocha; Bruno Deusdará; Poliana Arantes; Morgana Pessôa. (Org.). Em discurso 3 – Pesquisar com gêneros discursivos: interrogando práticas de formação docente. 1. ed. Rio de Janeiro: Cartolina, 2020. v. 3. p. 191-208.

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por entre as águas de S. e O Navio de Teseu: princípios de uma discussão sobre as mudanças de suporte do escrito

autora: Vitória Ferreira Doretto

Quando pensamos em qualquer assunto relacionado à S., obra-quebra-cabeças nascido da parceria criativa entre o cineasta de sucesso J.J. Abrams e o romancista conceituado Doug Dorst, publicado em 2013 nos Estados Unidos (sua versão traduzida para o português brasileiro foi publicada em terras brasileiras em 2015 pela editora Intrínseca), logo nos vem à mente a imagem de sua caixa ou do exemplar antigo de O Navio de Teseu que está abrigado na caixa. Entretanto raramente pensamos na sua versão para livro eletrônico (que, no momento, encontramos somente em inglês). Dessa forma aqui pretendemos pensar e discutir brevemente as diferenças na leitura propiciada pelo e-book de S., queremos discutir brevemente as mudanças que obrigatoriamente ocorrem de um suporte material para o outro (livro e e-book) e quais são as consequências [para o leitor] acarretadas por essa mudança,

palavras-chave: J.J. Abrams; suportes do escrito; modos de leitura.

publicado em: Luciana Salazar Salgado; Ana Elisa de Arruda Penteado. Mediação editorial: o que é, quem faz? Revisão de textos, ofícios correlatos e materialidades editáveis. Bragança Paulista: Margem da Palavra, 2018.

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